Foto: Leo Munhoz / SECOM
Mais de 23 mil pessoas já receberam órgãos, tecidos ou células durante os 25 anos de atuação da Central Estadual de Transplantes de Santa Catarina, a SC Transplantes, que começou a atuar no dia 27 de outubro de 1999. Um dos estados pioneiros na regulamentação de doação e transplantes no país possui um sistema 100% regulado e baseado em critérios técnicos. Vinculado à Secretaria de Estado da Saúde (SES), o serviço público de doação e transplantes construiu uma história de trabalho e conquistas que orgulha Santa Catarina e proporciona recomeços.
Thiago Regis, de 44 anos, é uma dessas pessoas que ganharam a chance de viver. Em 2014, após exames de rotina, descobriu uma série de alterações e foi detectada uma nefropatia grave que levou a um transplante de rim, em 31 de julho de 2023, no Hospital Santa Isabel, em Blumenau. “Nesse período, eu me tornei atleta, fui controlando a doença, mantendo bons hábitos, que fez segurar o avanço da doença por alguns anos. Mas a insuficiência renal crônica avança gradativamente e você vai perdendo a qualidade de vida. Em 2022, iniciei a diálise peritoneal e, em 2023, fiz transplante de rim”, conta Thiago.
O transplante mudou a vida do empresário, que segue fazendo acompanhamento no hospital. “Minha vida melhorou mil por cento. Hoje voltei a praticar esporte normalmente. Se não fosse o transplante, talvez hoje eu não estivesse aqui. Então é muito importante você que tem vontade de doar órgãos, salvar outras vidas, eu sou uma prova viva de que isso realmente salva. Muitas outras pessoas tiveram a mesma felicidade que eu e estão levando uma vida normal com muito mais qualidade”, comemora Thiago.
A solidariedade da população catarinense é fundamental nesse processo. A não autorização das famílias no estado também é uma das menores, com 33%, enquanto que a média nacional está em 45%. “A doação de órgãos salva vidas. É resultado de um trabalho de união entre a população, o Estado e as equipes de Saúde, que muito nos orgulha”, afirma o governador Jorginho Mello.
“O SC Transplantes é uma Política de Estado que há muitos anos alcança índices importantes e se destaca no cenário de doação e transplante no estado, no país e no mundo. E o Governo do Estado é fundamental nesse processo, pois proporciona uma estrutura de atendimento e de transporte terrestre e aéreo que atende a população do território catarinense e de outros estados, de forma segura e célere”, destaca o secretário de Estado da Saúde, Diogo Demarchi.
História de conquistas
A SC Transplantes foi criada pelo Decreto Estadual nº 553/1999 e começou a atuar em 27 de outubro do mesmo ano, quando autorizada pelo Ministério da Saúde. O serviço coordena as atividades de transplante no Estado, gerenciando as listas únicas de receptores e os processos de doação e distribuição de órgãos e tecidos, além de formular políticas de transplantes para SC.
“O início da atividade de transplante em Santa Catarina remonta a década de 1970, quando foram realizados os primeiros transplantes de córnea e de rim. Com a autorização do funcionamento da Central de Santa Catarina, ganhou-se regulação e corpo, porque passa a funcionar como um sistema estadual e organizado”, conta o médico intensivista Joel de Andrade, coordenador da SC Transplantes desde 2005.
Anos se passaram e a equipe tomou conhecimento do modelo espanhol de coordenação de transplantes, o melhor do mundo nos últimos 30 anos. “Fomos para Valência aprender sobre o modelo em 2007. Uma a uma das recomendações feitas foram cumpridas. Até que, em 2013, iniciamos a remuneração das atividades de coordenação de transplantes, algo inédito no Brasil, que trouxemos da Espanha. Baseado na presença de médicos e enfermeiros em cada uma das unidades hospitalares, buscando os potenciais doadores e desencadeando todo o processo de doação de transplantes e, a partir daí, os resultados foram aumentando. Nos últimos 19 anos, por 14, nós fomos líderes isolados em doação de órgãos para transplantes no Brasil e, nos outros cinco, fomos o segundo melhor Estado da federação, uma liderança absoluta. O modelo espanhol não foi copiado, foi adaptado para Santa Catarina e encaixou perfeitamente”, explica Joel de Andrade.
O coração do sistema
A SC Transplantes é um grande eixo de trabalho para todo o sistema. Cada paciente com suspeita ou morte encefálica confirmada é notificado e comunicado à divisão técnica da Central, que possui profissionais 24 horas. “Aqui recebemos todas notificações de potenciais doadores em morte encefálica e fazemos uma avaliação da possibilidade desse paciente ser doador ou não. se há contraindicação, como doenças infecciosas ou neoplasias que possam ser transmitidas para os receptores, o doador não é validado. Este é o primeiro filtro de segurança”, fala o médico intensivista Rafael Lisboa, coordenador adjunto da SC Transplantes, que atua na avaliação e validação dos potenciais doadores.
Se validada esta fase, é realizada a entrevista familiar para a doação dos órgãos. Caso seja autorizada a doação, uma amostra de sangue é processada no Hemosc para verificar a presença de doenças infecciosas. Então coordena-se a remoção dos órgãos se não houver contraindicações infecciosas. “Nessa etapa de extração dos órgãos existe mais uma checagem em relação à presença de possíveis tumores ou outras alterações que impeçam a doação e, uma vez validado, a central inicia a oferta dos órgãos que foram doados, dentro dos rankings das listas de receptores da central”, explica o Dr. Joel
A Central Estadual também realiza controle e auditoria dos processos de trabalho, além de capacitação constante dos profissionais que atuam nas equipes coordenadoras de transplantes, por meio de cursos focados para cada etapa desse sistema. Atualmente, Santa Catarina conta com a colaboração de 69 instituições hospitalares doadoras. Os serviços de transplantes estão distribuídos em 36 estabelecimentos de saúde, muitos dos quais realizam transplantes de mais de um tipo de órgão ou tecido.
“Toda essa articulação entre a doação e transplante de órgãos e de tecido, se dá pela SC Transplantes, ou seja, o cadastro de cada receptor e a distribuição dos órgãos de cada doador passa por nós, é uma atividade 100% regulada e a distribuição é técnica e com justiça. Em Santa Catarina, a gente pode se orgulhar de dizer que pessoas de todas as classes sociais doam e recebem órgãos, tecidos e células”, finaliza Joel de Andrade.