Passadas duas semanas do início dos desastres no RS, o Governo Federal, Estadual e local ainda buscam soluções na gestão da crise que se instalou pelas cidades gaúchas.
As ações de resposta (socorro, assistência e reabilitação) logo chegarão ao fim, e será o momento de recuperar e reconstruir as estruturas das cidades e as vidas daqueles que sofrem as consequências do impacto.
Aqueles que estiveram envolvidos nas horas mais angustiantes do desastre, sejam as vítimas, os voluntários e as equipes de resgate, levarão consigo traumas que os acompanharão por muitos anos, muitas vezes sem serem percebidos como traumas, mas traduzidos em vícios e patologias. As pessoas que entraram nesse desastre não serão as mesmas que saíram dele. Além da reconstrução das casas, dos comércios e da economia em geral, será preciso recuperar e reconstruir as pessoas e a cultura de percepção de riscos.
Não é o momento de buscar culpados pelo que aconteceu. Se há de encontrá-los, teremos de regressar à época da colonização dos estados e do Brasil. A gestão de riscos de desastres nunca foi uma prioridade no Brasil, sempre esteve em segundo, terceiro, quarto ou quinto plano na agenda de políticas públicas, vindo à tona somente quando os desastres aconteciam para logo em seguida retornar as gavetas mais inferiores dos tomadores de decisão.
Sempre que um desastre acontece, inúmeras ações são divulgadas e celebradas como soluções aos problemas, para logo em seguida, serem negligenciadas e terem seus recursos espoliados por pautas mais eleitoralmente positivas.
A magnitude do que aconteceu no RS exigirá a reconstrução total de ruas, bairros e cidades que foram varridos pelas águas, mas será também preciso uma mudança cultural das pessoas e das autoridades em lidar com os riscos de desastres.
Especialistas em riscos e desastres, afirmam que a construção de uma estrutura prevencionista no Japão, somente foi possível devido a magnitude destrutiva dos desastres que aconteceram naquele país onde a destruição total das estruturas existentes, permitiu que tudo pudesse ser reconstruído por completo, da forma correta para evitar que um desastre da mesma magnitude, causasse o mesmo resultado catastrófico.
O Japão construiu e constrói uma cultura prevencionista, buscando estabelecer uma lembrança ativa, uma memória constante dos desastres que enfrentou, para que as futuras gerações tenham a consciência de que aquilo que aconteceu, poderá acontecer novamente, devendo estar preparados. Sendo assim, é preciso manter um constante estado de alerta e não tornar a cometer os erros cometidos no passado.
Já aqui no Brasil, busca-se esquecer o passado, ocultar os erros e acreditar que a proteção divina não permitirá que tornaremos a enfrentar um novo desastre. É como se nunca tivéssemos enfrentado um desastre no passado e sempre aguardamos que o próximo não seja tão ruim como foi o anterior, ou que ele simplesmente não aconteça.
O desastre no RS em 2024, sem dúvidas é um dos mais impactantes e catastróficos que o país já enfrentou. A destruição registrada se equipara a terremotos e tsunamis. E de longe supera as inundações e deslizamentos que marcam a história dos desastres no Brasil.
No RS muito foi feito pelos voluntários e pelas doações, mas chegará o momento em que as rédeas da recuperação e da reconstrução terão de ser assumidas pelo poder público, pelos Governos Federal e Estadual, que devem fornecer os recursos necessários aos governos municipais para retornarem a uma nova normalidade. E cabe aos governos locais – aos Prefeitos das cidades – a responsabilidade de fazer do jeito certo, de reconduzir sua população a segurança, estando consciente daquilo que aconteceu e de como deve ser feito para que nada naquela magnitude volte a acontecer.
Que o impacto da destruição no RS, cause também um impacto na percepção das pessoas e dos Governos em tratar a gestão de riscos nas cidades brasileiras. No estado de SC, 100% dos municípios dispõem de mapeamento dos setores de riscos, para inundações, enxurradas e deslizamentos. Porém quantos desses municípios, incluíram essas áreas em seus planos diretores, ou estabeleceram políticas públicas para reduzir ou minimizar o risco existente? Quantos dos moradores dessas áreas, sabem que residem em um local exposto ao risco?
A responsabilidade por cuidar das pessoas nos municípios, é do poder público local, é do governo municipal, é do Prefeito.
Na gestão de riscos e desastres tratada com seriedade e comprometimento, muito pode ser feito, mesmo com poucos recursos disponíveis. Mas nada pode ser feito, quando e onde não há compromisso político legítimo com a proteção das pessoas.
Justiça liberta presos da operação mensageiro
O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC) na última sexta-feira (18) determinou a soltura de dois dos presos na 5° quinta fase da Operação Mensageiro que investiga suspeitas de irregularidades na contratação dos serviços de água em Porto Belo – SC. Apesar da liberdade, ambos terão de cumprir medidas cautelares.
O Deputado Emerson Stein (MDB), que foi alvo de busca e apreensão na mesma fase da Operação Mensageiro em 29 de abril, teve o pedido do Ministério Público de SC (MP-SC) para que ele seja impedido de entrar em contato com testemunhas do processo e outros investigados aceitos pelo desembargador. A Justiça determinou também a proibição do Deputado Emerson Stein de ir até a Prefeitura de Porto Belo.
O ponto é que as investigações continuam e devem se estender pelos próximos meses que antecedem as eleições municipais em outubro.
A pergunta que surge é, o quanto as investigações podem ou não afetar a influência de Stein na política municipal?
Lembrando que até o momento, nenhuma prova do envolvimento direto do ex-Prefeito em irregularidades foi apresentada e o processo continua em segredo de justiça.